sábado, 27 de dezembro de 2008

Comunidades de Prática


Lave Wenger (1991) foi o primeiro a investigar a ideia de Comunidade de Prática. Em 1998, desenvolveu o termo de COP como um tipo de comunidade em que a prática gera coesão interna.
“… a aprendizagem colectiva gera prática que reflectem a persecução dos nossos empreendimentos e as reacções associadas . Estas práticas são, assim, propriedade de um tipo de comunidade criada ao longo do tempo pela persecução sustentada de um empreendimento comum. Faz portanto sentido chamar a essas comunidades “comunidades de prática” (Wenger, 1998, p.45).
Pelo supra-citado, pode-se definir a COP como um grupo de pessoas organizado que nela participam devido ao interesse num determinado domínio do conhecimento.

Na sua teoria social da aprendizagem, Wenger enuncia que a aprendizagem e o conhecimento resultam do relacionamento, da participação, da partilha, da prática entre membros de uma determinada comunidade, em suma de uma interacção social. Como as COP são identidades vivas, o diálogo sobre as tarefas, a questionação, a produção, o ritmo para as interacções e a recolha de artefactos em espaços criados para o efeito são fundamentais para que as COP cresçam, permaneçam e evoluam. Sem uma identificação a essa comunidade e sem a construção de identidades, a integração dos membros não fará qualquer sentido.

Segundo o modelo estrutural de COP, o domínio do conhecimento - área que une as pessoas e cria um sentido de responsabilidade, a comunidade –relações, interacções pessoais e institucionais entre os membros e a prática- ideias, padrões, instrumentos, histórias, experiências…partilhados pelos membros- são então 3 elementos que clarificam a definição de COP.
Ora, a tecnologia tem vindo deter um papel primordial na vida das comunidades, pois permite uma participação mais activa e a partilha de documentação independentemente das limitações do espaço e do tempo. Embora a tecnologia, por si só, não forme uma comunidade, desde que esta lhe reconheça algumas qualidades e se aproprie dela porque responde aos seus objectivos, acaba por divulgá-la consoante o grau de utilização e de apropriação. De facto, a comunidade e a tecnologia influenciam-se mutuamente.
Conforme no-lo mostra a figura 1 (Wenger, 2005), são importantes 3 incentivos (incentivo do mercado da tecnologia, incentivo para servir os objectivos da comunidade, e incentivo do uso na COP) que fazem com que a tecnologia e as COP se influenciem.
Não podemos olvidar que a adopção de uma determinada tecnologia está dependente do contexto de cada comunidade, dos constrangimentos da organização. Seguidamente, cada comunidade adopta, rejeita ou adapta a tecnologia consoante os seus objectivos e resolução de tensões.É a compreensão das necessidades de uma comunidade que leva à alteração das propostas do mercado.
Nas comunidade existem sempre tensões visto que, como referido supra, o conceito de comunidade implica um emprendimento ou experiênca comum, embora cada membro viva de forma individual a sua participação e tenha simultaneamente de lidar com a complexidade de todos os outros membros. De facto, nem todos têm as mesmas necessidades e grau de participação nas actividades delineadas. A tecnologia comunitária é especificamente desenhada para as comunidades mas cada membro se apropria dela de forma individual, daí por vezes a criação de tensões que se devem superar embora nem sempre superáveis com a utilização da tecnologia.
Sem troca de ideias, sem diálogo sobre as tarefas, sem uma questionação, sem a produção e a partilha, a recolha de artefactos, e sem o culto da comunidade esta dificilmente poderá crescer, manter-se e transformar-se.

Seg.Wenger (1998) e Wenger et al.; (2002), citados por Bettoni (2005), o ciclo de vida de uma COP tem 5 fases :
-potencial
-coalescência
-maturação
-orientação
-transformação

Visto que as aprendizagens variam consoante a comunidade, numa comunidade como a da escola, constituída por membros heterogéneos, a implementação da plataforma Moodle (LMS) pode ser analisada de acordo com os 4 níveis referidos por Wenger (2005).
-configuração da tecnologia
-plataforma
-ferramentas de suporte à actividade
-características da ferramenta

Para além da escolha da ferramenta devido ao seu preço, é de realçar o design fácil utilização, a fim de não desencorajar os utilizadores-alunos e professores. Todos os alunos e o professor da disciplina, desde que tenham acesso à Net- o que é sempre possível na escola e, para a maioria dos discentes, em casa-e computador, podem entrar na plataforma e colaborarem para a realização do trabalho final. É de salientar que o nível dos skills dos alunos é semelhante, pelo que não haverá a priori grandes dificuldades na utilização das diversas ferramentas e que o interesse dos participantes é em geral elevado.

A escolha da plataforma para o trabalho colaborativo a desenvolver-criação de um blog por uma turma de 9º ano-,resultado da participação individual e da comunicação assíncrona para o concurso ”Inês de Castro” , deve-se às características da mesma. Há também a possibilidade de utilizar ferramentas na mesma (fóruns, mails) que possibilitam a colocação de dúvidas, a partilha de ideias, e de artefactos construídos individualmente ou em pequenos grupos, a crítica aos mesmos antes da sua colocação no blog, a resolução de algumas tensões e o incentivo à participação de todos, embora também haja “face to face mettings” onde podem ser resolvidas dúvidas.
Não há problemas de diversidade linguística, enquanto o trabalho for desenvolvido num grupo restrito que pode ser alargado a outras comunidades quando houver comentários no blog. Se surgir esse problema, será necessária a colocação de um link, no blog, para um dicionário on-line.
Algumas das interacções assíncronas de participação individual a utilizar ( utilização dos fóruns, e-mails, wikis…) e a publicação (ficheiros, bibliografias…) são referidas na figura 3 da página 5 (Wenger, 2005).

As aprendizagens compreendem vários conteúdos- biografia de Inês de Castro, contexto histórico-social, contexto cultural, lendas, contos…
A actividade-empreendimento comum- resultará de um trabalho colaborativo e de partilha cuja calendarização terá que ser respeitada por todos os membros. O nível de participação de cada aluno poderá divergir consoante a motivação intrínseca, o seu grau de “paixão” pela tarefa, o seu controlo cognitivo.
O espaço construído pode ser aberto a novos espaços de interacção.

Palavras- chave:

-comunidade de prática
-aprendizagem social
-aprendizagem colaborativa apoiada por computador
-construtivismo social
-tecnologia comunitária
-participação/cooperação orientada para o conhecimento


Referências

Bettoni,M. (2005).Comunidades de prática como método para a cooperação orientada para o conhecimento. In Actas da Conferência TACONET. CEFCEP- Universidade Católica Portuguesa. pp 166-167.
Wenger, E.(1998).Communities of Practice: learning, Meaning, Identity.Cambridge:Cambridge University Press.
Wenger, E., White N., Smith ,J., Rowe K.(2005).Technology for communities.CEFRIO Book Chapter .V 5.2 , Jan 18,pp.1-15.
Trabalho realizado por Paula de Oliveira

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