segunda-feira, 5 de janeiro de 2009

A importância da avaliação e certificação de RED




A validação e a certificação de recursos educativos digitais (RED) implica a clarificação do seu conceito. Para Ramos (2), software educativo é aquele que é especificamente concebido e destinado a ser utilizado em situações educativas embora alguns autores entendam que deve ser considerado software educativo todo aquele que é usado em contexto de ensino-aprendizagem.
Para este autor, um RED pode ser uma colecção de documentos com determinadas propriedades ou um documento que se adequa às necessidades do sistema educativo, detenha uma autonomia e identidade própria e corresponda a padrões de QUALIDADE, que no caso de Portugal se encontram a ser definidos pelo projecto SACAUSEF- Sistema de Avaliação, Certificação e Apoio à Utilização de Software para a Educação e Formação, (futuro CERTRED).
Responder ao conceito de qualidade obriga à certificação num conjunto de dimensões e de critérios definidos em vários domínios. Para Maria Pinto(1), “un produto es de calidad cuando cumple com nuestras expectativas y sus características y propriedades nos parecen adecuadas” e sublinha ainda que há sempre uma componente subjectiva nesses tipos de juízo de valor/apreciação pelo que, na nossa perspectiva, a formação de avaliadores, a clarificação de uma tipologia e a existência de uma ficha tipo de avaliação se assumem como fundamentais.
Ainda segundo Ramos, a avaliação de software educativo deve ser constituída por duas fases: a análise do software ou avaliação descritiva (verificação da qualidade intrínseca do produto, que faz referência à qualidade da informação que contém e ao seu valor objectivo) e a avaliação em contexto.
Um RED só será validado e certificado após uma avaliação descritiva realizada por dois avaliadores experientes e formados para o efeito, elementos decisivos no processo, cuja função será, recorrendo a fichas de análise, identificar eventuais erros de conteúdo, lapsos ou omissões, e ter em conta os vários domínios ou dimensões de qualidade: o domínio técnico, de conteúdo, pedagógico, linguístico e de atitudes e valores (estereótipos de género ou de outra natureza).
Após a avaliação descritiva, seguir-se-á a transferência do produto para um contexto educativo, previamente identificado, e a verificação da sua apropriação pelos utilizadores com o objectivo de verificar a adequação do produto às necessidades quer do sistema educativo, quer dos utilizadores.
A fase da avaliação em contexto implica um plano em contexto educativo específico contendo a preparação, realização e avaliação do trabalho educativo em determinado ambiente/cenário de aprendizagem. Deverá ser tida em consideração a importância dos destinatários principais do RED e o seu perfil, enfatizando não só a conhecimento e familiarização com o produto em observação /avaliação mas também a análise das competências passíveis de serem desenvolvidas na sua utilização.
Como o contexto curricular, o espaço social e as condições específicas de cada escola assumem uma relevância acentuada na medida em que podem condicionar os resultados assim como a abrangência curricular ou formativa a que o produto pode ser associado no processo de ensino/ aprendizagem, cabe ao avaliador a caracterização do contexto específico a par da descrição e organização da aula ,indicando as metas/objectivos de aprendizagem ou as competências que poderão ser desenvolvidas, os conteúdos a abordar bem como as estratégias /actividades previstas e a respectiva calendarização.
A forma de proceder ao registo e avaliação da actividade deverá ser claramente explicitada ( (grelhas de observação, notas de campo, diário, guião de questões, portefólios ou simples testes de avaliação) de modo a conferir credibilidade aos resultados obtidos.

O impacto do RED no processo de aprendizagem num contexto específico é determinante para a certificação do software, pois um RED deve respeitar o currículo e o ritmo de aprendizagem dos alunos, servindo como um dispositivo de integração e articulação curricular das TIC.
Por isso, os criadores devem apostar na qualidade, que só será entendida se houver um plano de divulgação deste conceito e espaços e mecanismos centralizados, criando-se um work-flow em que profissionais da educação relatem as suas experiências de utilização em contexto, .
Não podemos contudo esquecer que um RED pode desempenhar múltiplas funções consoante os objectivos de cada docente: pode servir para apoiar o trabalho autónomo dos alunos, para consolidar aprendizagens, desenvolver competências de auto-regulação da aprendizagem, promover o espírito critico e o raciocínio em abordagens construtivistas ou simplesmente adequarem-se às práticas didácticas em curso. Não existem produtos “à prova do professor”.
Apesar disso a avaliação e certificação de RED que se pretende implementar em Portugal assume uma relevância particular na medida em que, entre outros factores, ajudará a pesquisa e selecção de materiais e recursos de qualidade, fornecerá informações e orientações sobre as melhores formas de usar os recursos nas escolas e apoiará os professores na sua selecção e uso (Ramos et al. )(2)
A certificação e avaliação poderá também constituir um poderoso auxílio nas melhorias das práticas de produção de RED para além de promover o reconhecimento de autores e programadores.É expectável que a certificação venha a permitir não só a identificação e consequente informação aos utilizadores ( Professores, pais e alunos) de RED de qualidade, das suas características e potencialidades pedagógicas, como poderá ter um efeito motivador promovendo uma variedade e qualidade de produção de RED. Por outro lado, ao terem contacto com produtos certificados, os docentes poderão sentir-se mais seguros na utilização dos RED podendo servir a avaliação em contexto como um fermento promotor de práticas pedagógicas inovadoras.
Embora haja o sentimento de que em certas áreas curriculares existe, por vezes, uma insuficiência de RED, não podemos esquecer que Portugal é um dos 37 países integrantes do sistema europeu de metadados EUN – Learning Resource Eschange- o que permite o acesso a conteúdos de diferentes repositórios.

Referências
1-Pinto, M. Evaluación de la cálida de recursos electrónicos educativos para el aprendizaje significativo. In Cadernos Sacausef, 2, p. 27.
2-Ramos, J.L; Duarte, V.D; Carvalho,J.M; Ferreira, F.Me Maio, VM. Modelos e práticas de avaliação de recursos educativos digitais. Pp.79-87.

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